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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

PASÁRGADA, TERESA, PNEUMOTÓRAX, BÊBADOS E OUTROS. MANUEL BANDEIRA

“Vou-me embora pra Pasárgada, lá eu sou amigo do rei.” (Manuel Bandeira)


Quem nunca ouviu falar de Pasárgada e de seus encantos? Quem nunca desejou ir pra lá? Eu pelo menos, todas as vezes que fico p..., ou melhor, nervosa com alguma coisa, eu sempre gritava para a primeira pessoa que via: “Vou-me embora pra Pasárgada, lá eu sou amigo do rei.”
Os escritos de Manuel Bandeira são um máximo. Para mim, ele mistura simplicidade com literatura da melhor qualidade. “Teresa” é o poema que mais gosto e isso tem anos. Diferente da personagem, me apaixonei pela primeira vez que li sobre Teresa.


Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o
[resto do corpo
(Os olhos nasceram e fizeram dez anos esperando
[que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
(Manuel Bandeira)


Amo Manuel Bandeira (embora não tenha lido tudo dele, infelizmente) e a minha preferida sem sombra de dúvida é Teresa. Que se constitui em um amor real tão verossímil a vida que me faz sonhar. É lindo a primeira visão da personagem ao ver Teresa como uma mulher qualquer, ou até pior, desprovida de beleza. Uma segunda vez ainda há o mesmo sentimento. Na terceira vez, tudo muda aos olhos de um apaixonado quando a ver com amor. O divino passa a habitar o terreno, é maravilhoso.
Sempre me pergunto: Se Teresa era tão feia, por que ele olhou três vezes para ela? Quanto tempo ele demorou para olhar Tereza? As três visões foram no mesmo dia? Na mesma semana? No mesmo mês? Não sei se interpreto direito, mas essa leitura me faz viajar. Amo, amo e amo. Queria saber e conhecer melhor as maravilhas de Teresa.
Sou apaixonada também por “Pneumotórax”, onde o relato de uma doença que não tem muito que se fazer, trata de modo “irônico” e até certo ponto engraçado.

Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
(Manuel Bandeira)


Não me estenderei mais, senão este post ficará enorme. Só estou aqui comentando seus poemas como uma apaixonada e fã. Esta interpretação, não é acadêmica e nem se importa em ser. Estamos fora do contexto literário de sua época. Para os interessados, pesquisem sobre ele. Vale muito a pena.
Para finalizar

"...Quero antes o lirismo dos loucos O lirismo dos bêbados O lirismo difícil e pungente dos bêbados O lirismo dos clowns de Shakespeare - Não quero mais saber do lirismo que não é libertação" (Manuel Bandeira)*


*Essa tem todo um contexto de crítica a literatura pela estrutura correta dos poemas e pela forma rígida, mas, mesmo assim a amo também. Pelos motivos parecidos como o poema de Teresa, ela me faz viajar, em um mundo mais além. Liberta-me dos convencionalismos acadêmicos que tanto poda a nossa criatividade e entristece nosso coração sonhador.

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